Inferno
Carlos é um garoto que vive uma
dualidade cruel. Abençoado com um talento fora de série, ele se vê ofuscado com bastante frequência pelos
irmãos igualmente ou ainda mais bem dotados. Apesar de
ser uma criança com um dom invejável, em outras palavras, Carlos não tem a
atenção merecida dos pais por ter nascido em uma família de grandes destaques.
Nem mesmo a maturidade e a
mudança de ares ao longo dos anos fizeram com que o menino fosse notado por
seus progenitores, embora muitos de seus amigos façam apelos desesperados e
comoventes para que ele receba atenção.
Diante deste contexto, Carlos não
tem expectativas para o futuro – ao menos não ao lado da família. Então, o que
lhe resta?
Na realidade, este é o dilema
vivido pelo já crescido Tévez. O atacante de 29 anos, hoje destaque da Juventus,
é vítima de uma cruel cortina de ferro imposta pela figura do “pai” Alejandro
Sabella na Seleção Argentina.
Com a
emancipação que o técnico lhe destinou na Albiceleste, Carlitos fica cada vez
mais distante dos “irmãos” Lionel Messi, Sérgio Agüero, Di Maria, Gonzalo
Higuaín e tantos outros avantes do futebol hermano. É de cortar o coração e
perturbar a mente.
Amigos se esforçam para conscientizar o "inquisidor" Sabella |
Purgatório
Em boa fase no time de Turim, Tévez
parece ter encontrado o tão almejado equilíbrio profissional e emocional. Após
deixar o Manchester City de maneira conturbada, ele dá a impressão de ter se
adaptado muito bem ao ambiente latino, que no fundo lhe é familiar.
No entanto, ainda que o desempenho
dele em campo seja alto e as lesões assombrem os compatriotas, o camisa 10 da
Velha Senhora está longe de ser um dos selecionáveis de seu país. O próprio
atacante se conforma com este pensamento.
“Por mais que eu faça 30 gols,
não acredito que irão me convocar. Nem mesmo posso me iludir com essa
possibilidade. Para mim, ver a seleção faz mal. A Copa? Vou tirar férias para
não acompanhá-la. Já joguei dois Mundiais, e o que Sabella me mostrou foi o
seguinte: machuque quem se machucar, ele não me chamará”, desabafou o atleta.
O histórico de Carlitos na Seleção,
convenhamos, não é impressionante, e a última imagem dele vestindo o manto
argentino é frustrante. Em junho de 2011, perdeu um pênalti nas quartas de final da Copa
América diante do Uruguai, seleção que acabaria levantando o caneco em pleno território
rival.
“Não gostaria que a última imagem
na seleção seja o pênalti que errei contra o Uruguai. Sinto que me falta uma redenção”,
explicou o jogador, acrescentando que não estava preparado para a disputa da
competição naquele momento.
De fato, merecer outra chance
parece mais do que justo a todos que acompanham a trajetória de um dos mais
autênticos representantes do futebol sul-americano. Mas enquanto a oportunidade
não aparece, ele projeta a conquista de títulos nacionais e continentais pela
Juventus. Será que isso é o suficiente para que Tévez esqueça o drama vivido na
seleção?
Tévez e Muslera após penalidade: reações distintas |
Céu
Mas durante sua passagem pelo
purgatório, Carlitos ainda sonha em finalizar a carreira nos céus da glória. Ele
quer definitivamente deixar os gramados vestindo a camiseta azul y oro do amado clube que o
revelou para o futebol, o Boca Juniors. E parece fazer questão de que todos
saibam disso.
“Não acredito que seja em 2015,
até porque tenho contrato de três anos com a Juventus, mas todos sabem que meu
sonho é me aposentar com a camisa do Boca. E não quero voltar para passar
vergonha. Lá eu jogo sem receber nada, vou de graça. Vou por mim, por minha
família e pelos que me querem. Quando eu voltar, farei bem para colocar a
camisa que amo e seguir fazendo história”, finalizou o jogador.
E quem sabe no retorno a Buenos
Aires Tévez não possa ser completamente feliz, em contraposição ao atual
momento? Uma vez bem consigo mesmo, num ambiente que lhe proporciona boas
memórias e o leva de volta às raízes, talvez Carlitos ganhe um espaço na
seleção para, enfim, colocar um ponto final na amargurada história que
certamente o afastará da Copa no Brasil.
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