segunda-feira, 14 de julho de 2014

A Copa das Copas

Não deu. Simplesmente não deu. Não era nosso dia. Torci até o último segundo para todas as seleções latino-americanas, mas quis o destino que o título da Copa do Mundo ficasse nas mãos dos europeus pela terceira vez consecutiva. E o pior: dentro do nosso próprio território, pela primeira vez na história.

Tenho que admitir que doeu. Doeu bastante. Depois desta final entre Alemanha e Argentina, o orgulho ficou ferido. Mas acontece. Faz parte do futebol. Bola para frente.

Apesar do nosso insucesso, posso olhar para trás e dizer que valeu a pena. Cada segundo, cada dividida, cada gota de suor e de sangue deixadas em campo pelo amor à camisa. Claro, com exceção do pesadelo brasileiro, tudo valeu a pena.

Valeu o retorno triunfal de Suárez para enterrar as chances da Inglaterra. Valeu a cabeçada heroica de Godín para mandar a Itália de volta ao Velho Mundo. Valeram os gols de Aránguiz e Vargas para esmagar a ilusão espanhola. Valeu a decisão de Álvaro Pereira de ficar em campo mesmo após ter desmaiado.

Também valeram a alegria e o carisma contagiantes da Colômbia. Valeu a surpreendente e inesquecível Costa Rica. Valeu o recorde do decano "cafetero" Faryd Mondragón. Valeu o cirúrgico desarme de Javier Mascherano para cima de Arjen Robben. Valeu até mesmo o esforço emocionante do Equador.

E muitos outros momentos ficaram marcados. Das polêmicas mordidas às invasões nas areias de Copacabana, passando pelos mexicanos fantasiados de Chapolin Colorado. Valeu porque esta foi a Copa da raça, da paixão e, apesar do título europeu, também foi a Copa da América Latina.

Até os alemães "frios e calculistas" - como tanto cunhou-se por aí - foram contaminados pelo espírito local, pela simpatia nordestina e pela dança indígena. Talvez por esses motivos eles tenham sido os grandes vencedores do Mundial. Por que não acreditar nisso? É melhor assim. Ameniza a dor da derrota.

Só lamento o protagonista do título ter sido um garoto que trocou o amor de uma torcida pela montanha de euros do rival, sobretudo pouco antes de uma grande decisão entre ambos os clubes. Outros mereciam mais a glória eterna. Infelizmente, para usar um vocábulo caseiro, "la historia no se puede cambiar".

Enfim, nossos sonhos agora são adiados para a Copa da Rússia, em 2018. Antes, ainda teremos todas as emoções da Copa América, no Chile, em 2015. E que o discurso de ódio e preconceito contra nossos irmãos desta vez sejam dissipados pelo tempo e pelo concreto das arquibancadas.

A América unida é mais que uma frase: é nosso futuro. Ou como diria Simón Bolivar, "la unidad de nuestros pueblos no es simple quimera de los hombres sino inexorable decreto del destino". Até lá, que sigamos copando y alentando y seguindo a canção. Todos juntos!


Suárez superou lesão no joelho para brilhar contra a Inglaterra
Comemorações da Colômbia animaram o Brasil
Predestinado, Godín comemora gol da classificação
Vargas decretou a eliminação da então atual campeã mundial
Costa Rica derrubou favoritos e foi até as quartas de final
Mascherano desarma Robben: símbolo da raça Argentina
cOSnguizA

segunda-feira, 24 de março de 2014

Juventus ganha sobrevida na reta final da A-3 e sonha com classificação

O Juventus ganhou sobrevida na Série A-3 do Campeonato Paulista na manhã de domingo (23/03), no estádio da Rua Javari, ao derrotar o Sertãozinho por 3 a 1 e sair da temida zona de rebaixamento.

Com o resultado positivo, o time da Mooca subiu para a 15ª posição na tabela e chegou aos 16 pontos - apenas quatro de desvantagem em relação ao último clube que garante vaga no quadrangular final da competição (o próprio Sertãozinho, coincidentemente).

No entanto, a equipe comandada pelo técnico Luiz Carlos Ferreira, o "Ferreirão", precisa conter a euforia nesta reta final porque está a dois pontos de retornar à área do descenso. O fantasma da "B", inclusive, importuna diariamente nossos sonhos travessos.

Vitória sobre Sertãozinho veio de virada: Foto de Ale Vianna
Agora, faltam cinco rodadas para o término da primeira fase do estadual. Na visão dos mais otimistas, a boa notícia é que o Juventus será mandante em três destes compromissos.

Por outro lado, os mais analistas veem essa informação com olhos descrentes, já que o time conquistou apenas sete dos 21 pontos disputados no glorioso gramado da Javari. Este desempenho resultou num vergonhoso aproveitamento de 33,3% em casa.

Apesar do cenário desfavorável, prefiro acreditar numa reviravolta e na consequente classificação juventina. Para justicar minha torcida, fiz uma breve (e porca) análise da nostra agenda na A-3.

Primeiro, receberemos nesta quarta-feira (26/03) o São Carlos, 16º colocado. Os adversásios só venceram como visitante a partida contra a Santacruzense (1 a 0), na sexta rodada. Ótima chance de faturar três pontos.

Depois, viajaremos até Diadema no sábado (29/03) para enfrentar o perigoso Água Santa, atualmente no quarto lugar da classificação geral. Parada difícil. O empate será um ótimo resultado.

Já na primeira quarta-feira de abril (02/04) teremos confronto em casa diante do Internacional, 11º colocado com dois pontos a mais em relação ao Moleque. Luta direta e fundamental para se aproximar dos oito primeiros postos.

Na última partida como visitante (06/04), pegamos o vice-lanterna Guaçuano em território inimigo. Nem precisa dizer que precisamos passar o carro, não é, bello?

Por fim, contaremos com apoio total da torcida para medir forças com o time do Cotia, 13º colocado, no domingo do dia 13 de abril. O caldeirão grená vai ferver.

Resumindo, temos 15 pontos em disputa e 12 deles são bastante viáveis. Se conseguirmos alcançar este aproveitamento, chegaríamos aos 28 pontos e manteríamos a chama do acesso queimando. Torçamos também para que nossos rivais tropecem no meio do caminho. Forza!

* Informações sobre tabela coletadas no site Futebol Interior.


Veja o desempenho do Juventus até o momento:

02/02 - 10h00     Matonense 0 x 1 Juventus
05/02 - 16h00     Juventus 0 x 1 Votuporanguense
09/02 - 10h00     Juventus 0 x 0 São José "B"
12/02 - 20h00     Independente 2 x 1 Juventus
16/02 - 10h00     Juventus 1 x 3 Santacruzense
19/02 - 15h00     Juventus 3 x 3 Rio Preto
23/02 - 15h30     Noroeste 0 x 3 Juventus
26/02 - 15h00     Juventus 1 x 1 Francana
01/03 - 10h00     Flamengo 1 x 1 Juventus
08/03 - 16h00     América 1 x 1 Juventus
12/03 - 15h00     Juventus 2 x 2 Taubaté
15/03 - 19h00     Novorizontino 3 x 1 Juventus
19/03 - 20h00     Tupã 0 x 0 Juventus
23/03 - 10h00     Juventus 3 x 1 Sertãozinho

Próximos compromissos

26/03 - 15h00     Juventus x São Carlos
29/03 - 16h00     Água Santa x Juventus
02/04 - 15h00     Juventus x Internacional
06/04 - 16h00     Guaçuano x Juventus
13/04 - 10h00     Juventus x Cotia

Classificação geral:

1º. Rio Preto - 30 pontos*
2º. São José "B" - 27 pontos*
3º. Novorizontino - 26 pontos*
4º. Água Santa - 22 pontos*
5º. Flamengo - 22 pontos*
6º. Matonense - 20 pontos*
7º. Independente - 20 pontos*
8º. Sertãozinho - 20 pontos*
9º. Votuporanguense - 19 pontos
10º. Francana - 19 pontos
11º. Taubaté - 19 pontos
12º. Internacional - 18 pontos
13º. Cotia - 18 pontos
14º. Tupã - 16 pontos
15º. Juventus - 16 pontos
16º. São Carlos - 14 pontos
17º. América - 14 pontos**
18º. Santacruzense - 12 pontos**
19º. Guaçuano - 11 pontos**
20º. Noroeste - 9 pontos **

* classificados para o quadrangular final
** rebaixados para a segundona

domingo, 19 de janeiro de 2014

A infeliz vida de Tévez com Sabella à frente da Seleção Argentina


Inferno

Carlos é um garoto que vive uma dualidade cruel. Abençoado com um talento fora de série, ele se vê ofuscado com bastante frequência pelos irmãos igualmente ou ainda mais bem dotados. Apesar de ser uma criança com um dom invejável, em outras palavras, Carlos não tem a atenção merecida dos pais por ter nascido em uma família de grandes destaques.

Nem mesmo a maturidade e a mudança de ares ao longo dos anos fizeram com que o menino fosse notado por seus progenitores, embora muitos de seus amigos façam apelos desesperados e comoventes para que ele receba atenção. 

Diante deste contexto, Carlos não tem expectativas para o futuro – ao menos não ao lado da família. Então, o que lhe resta?

Na realidade, este é o dilema vivido pelo já crescido Tévez. O atacante de 29 anos, hoje destaque da Juventus, é vítima de uma cruel cortina de ferro imposta pela figura do “pai” Alejandro Sabella na Seleção Argentina.
Com a emancipação que o técnico lhe destinou na Albiceleste, Carlitos fica cada vez mais distante dos “irmãos” Lionel Messi, Sérgio Agüero, Di Maria, Gonzalo Higuaín e tantos outros avantes do futebol hermano. É de cortar o coração e perturbar a mente.

Amigos se esforçam para conscientizar o "inquisidor" Sabella
Purgatório

Em boa fase no time de Turim, Tévez parece ter encontrado o tão almejado equilíbrio profissional e emocional. Após deixar o Manchester City de maneira conturbada, ele dá a impressão de ter se adaptado muito bem ao ambiente latino, que no fundo lhe é familiar.

No entanto, ainda que o desempenho dele em campo seja alto e as lesões assombrem os compatriotas, o camisa 10 da Velha Senhora está longe de ser um dos selecionáveis de seu país. O próprio atacante se conforma com este pensamento.

“Por mais que eu faça 30 gols, não acredito que irão me convocar. Nem mesmo posso me iludir com essa possibilidade. Para mim, ver a seleção faz mal. A Copa? Vou tirar férias para não acompanhá-la. Já joguei dois Mundiais, e o que Sabella me mostrou foi o seguinte: machuque quem se machucar, ele não me chamará”, desabafou o atleta.

O histórico de Carlitos na Seleção, convenhamos, não é impressionante, e a última imagem dele vestindo o manto argentino é frustrante. Em junho de 2011, perdeu um pênalti nas quartas de final da Copa América diante do Uruguai, seleção que acabaria levantando o caneco em pleno território rival.

“Não gostaria que a última imagem na seleção seja o pênalti que errei contra o Uruguai. Sinto que me falta uma redenção”, explicou o jogador, acrescentando que não estava preparado para a disputa da competição naquele momento.

De fato, merecer outra chance parece mais do que justo a todos que acompanham a trajetória de um dos mais autênticos representantes do futebol sul-americano. Mas enquanto a oportunidade não aparece, ele projeta a conquista de títulos nacionais e continentais pela Juventus. Será que isso é o suficiente para que Tévez esqueça o drama vivido na seleção?

Tévez e Muslera após penalidade: reações distintas

Céu

Mas durante sua passagem pelo purgatório, Carlitos ainda sonha em finalizar a carreira nos céus da glória. Ele quer definitivamente deixar os gramados vestindo a camiseta azul y oro do amado clube que o revelou para o futebol, o Boca Juniors. E parece fazer questão de que todos saibam disso.

“Não acredito que seja em 2015, até porque tenho contrato de três anos com a Juventus, mas todos sabem que meu sonho é me aposentar com a camisa do Boca. E não quero voltar para passar vergonha. Lá eu jogo sem receber nada, vou de graça. Vou por mim, por minha família e pelos que me querem. Quando eu voltar, farei bem para colocar a camisa que amo e seguir fazendo história”, finalizou o jogador.

E quem sabe no retorno a Buenos Aires Tévez não possa ser completamente feliz, em contraposição ao atual momento? Uma vez bem consigo mesmo, num ambiente que lhe proporciona boas memórias e o leva de volta às raízes, talvez Carlitos ganhe um espaço na seleção para, enfim, colocar um ponto final na amargurada história que certamente o afastará da Copa no Brasil.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Benfica homenageia Eusébio com vitória sobre o Porto e vira líder

O Benfica não podia perder o clássico diante do Porto, no Estádio da Luz, pela última rodada do primeiro turno do Campeonato Português. Não devia perder. Não merecia perder. E quiseram os Deuses do futebol que esta tragédia não acontecesse.

Mais do que a liderança da competição, a vitória dos Encarnados por 2 a 0, neste domingo (12), representou uma homenagem ao eterno ídolo Eusébio, falecido aos 71 anos, há exatos sete dias.

A partida em Lisboa também foi a primeira disputada pelo time da casa desde a morte do Pantera Negra, um dos maiores jogadores portugueses e benfiquistas da história.

Por conta destas circunstâncias, o tributo ao ex-futebolista não ficou restrito ao minuto de silêncio e ao nome dele estampado na camisa dos atletas alvirrubros.

Antes do apito inicial, diversas faixas dedicadas a Eusébio enfeitavam o Estádio da Luz, assim como o mosaico dos torcedores. A festa aos poucos tomava contornos emocionantes. Veja como ficou o cenário virtual em uma apresentação 3D AQUI!

No total, 62.508 adeptos assistiram ao duelo em Lisboa, incluindo o zagueiro brasileiro David Luiz, que defendeu o clube da capital lusitana entre 2007 e 2011.


"Eusébio sempre", diz faixa à esquerda

Aproveitando a atmosfera positiva, o Benfica pressionou o rival e abriu o placar aos 13 minutos, quando o espanhol Rodrigo chutou forte contra a meta do brasileiro Hélton.

O segundo gol saiu logo após o intervalo. Depois de cobrança de escanteio, Ezequiel Garay levou a melhor sobre a marcação e cabeceou firme para ampliar o marcador.

Com o resultado parcial, o jogo ficou mais intenso e pegado. Na mesma medida, as discussões com o juiz e as entradas se tornaram mais quentes. Afinal, um clássico é sempre um clássico. "E vice-versa", acrescentaria Jardel.

Para piorar a situação dos visitantes, o lateral Danilo (ex-Santos) recebeu o segundo amarelo ao simular um pênalti e deixou o Porto com 10 homens em campo. A 15 minutos do fim, já não seria possível evitar a derrota.

Agora, o Benfica chega aos 36 pontos e assume a ponta do campeonato à frente do Sporting (34) e do próprio Porto (33). Quem sabe este não é o primeiro passo, o fôlego necessário para impedir o tetracampeonato consecutivo dos portistas na Liga?

Se continuarem a jogar por Eusébio, não creio que a façanha seja impossível. E esta seria a melhor maneira de honrar a memória do eterno Pantera.

Benfica jogou clássico com 11 "Eusébios"

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O milagre de Francisco e o caminho para a Libertadores

Nunca diga que um Papa não pode fazer milagres, muito menos perto de um hincha do San Lorenzo de Almagro. É bem verdade que as relações entre futebol e religião são apenas simbólicas (será?), mas não podemos negar que as forças divinas estão fortemente atreladas ao esporte e sempre o acompanhou.

San Lorenzo homenageou o Papa no uniforme principal
O fato é que desde a eleição do pontífice Francisco I, torcedor ilustre e de carteirinha do clube de Boedo (sócio número 88.235), o San Lorenzo atravessa uma ótima fase nos campeonatos nacionais. Terceira colocada no Torneo Inicial, a equipe classificou-se na última quarta-feira para a final da Copa Argentina.

A batalha não foi fácil, mas a equipe comandada por Juan Antonio Pizzi venceu o Estudiantes de Caseros nos pênaltis (5 a 4), fora de casa, após o empate em 1 a 1 no tempo regulamentar. Agora, o Ciclón espera a definição do confronto entre Arsenal de Sarandi e All Boys para conhecer seu adversário na decisão. A semifinal será disputada no dia 2 de outubro.

De quebra, os cuervos estão próximos de conquistar o primeiro título desde 2007 e retornar à Copa Libertadores após quatro anos de ausência. A última participação azulgrená no torneio havia sido em 2009, quando aquele equilibrado plantel decepcionou e ficou na lanterna da fase de grupos, com seis pontos conquistados.

Ninguém no bairro de Boedo nega: o objetivo do clube para o próximo ano é a América. E caso a meta seja alcançada, haverá mais um motivo para a diretoria do San Lorenzo construir uma estátua do Papa Chico no estádio Pedro Bidegain, já que o time também livrou-se do rebaixamento na última temporada - coincidentemente (ou não) depois de o pontífice assumir o cargo mais importante do catolicismo.

FICHA TÉCNICA - Semifinal:

San Lorenzo: Torrico; Buffarini, Alvarado, Gentiletti, Mas; Kalinski, Navarro; Piatti, Ruiz, Elizarri; Villalba. Técnico: Juan A. Pizzi.

Estudiantes: Ríos, Alvarez, Gásperi, Tavio, Montero; Serrano, Loria, Galván; Britos, Yassogna, Delorte. Técnico: Oscar Blanco.

Estádio: Centenário de Chaco (Resistência, Argentina).
Árbitro: Sergio Pezzotta.
Gols: 13' Buffarini (San Lorenzo), 55' ST Delorte (Estudiantes).

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Crônica: Torcedor de carne e sangue

A tarde ensolarada daquele domingo prenunciava mais um dia na rotina futebolística de Nicolás González, carinhosamente conhecido em suas bandas como El Pipa, ou só Pipita, para os mais íntimos.

O jogo, a rigor, não valia nada. Era apenas um destes confrontos para se cumprir tabela. No entanto, há sempre algo de especial em ver seu time dentro de campo, sobretudo porque "a mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana", como definiu Nelson Rodrigues.

Vestindo sua insubstituível e surrada camisa alvirrubra, Pipa seguia religiosamente a liturgia há décadas praticada pelos integrantes de sua família antes de sentir a vibração de uma partida. 

Aliás, são tantos anos de vivência naquelas arquibancadas de concreto que já não se sabia quem sentia quem. Talvez até a própria cancha soubesse da presença de seu fanático torcedor tamanha a ligação entre os dois.

E não era para menos. O sangue de Pipita escorria literalmente por aquelas grades e regava o gramado cheio de irregularidades. Por morar num bairro marcado pela forte imigração, ele participou de modo direto da reconstrução do estádio, que havia sido erguido por seus próprios antepassados operários.

Tais empenhos resultaram em suor e sangue, sendo que este muitas vezes rompia-lhe a pele em razão de precária segurança com a qual trabalhava. Mas outro elemento importante também sustentava a edificação: as lágrimas que caíram nas derrotas e se misturaram à composição do material.

Pipa canta nos muros e nos alambrados, interagindo com o estádio como se ele fosse sua extensão

Dados os ingredientes que formam nosso palco, resta-nos saber que três horas antecedendo o apito inicial bastavam para Nicolás encontrar os amigos, apreciar sua cerveja e resenhar sobre aventuras passadas. 

"Lembra aquela semifinal quando viajamos o país inteiro para ver o técnico retrancar o time? E ainda saiu briga...", relembra um torcedor de invejável memória. Na verdade, a única lembrança inexata deste "hincha" remetia à quantidade de vezes que ele lutou para impedir que desprestigiassem as cores pelas quais vive.

Mas é claro que El Pipa se recordava daquele embate. Cada partida é para ele como um filho. Desde o apito inicial que simboliza o parto até a morte decretada pelo último sopro do juiz - esta persona non grata sem identidade que assombra todos os continentes. Claro, também havia memórias dos confrontos diante seus exatamente iguais e opostos, os rivais alvinegros que viviam do outro lado da cidade.

O jogo, entretanto, não era contra eles. Então, o fundamental é saber que mais um filho de Pipa estava prestes a nascer. Preparado com bandeira, faixas e sinalizadores, Nicolás mal podia esperar para conhecê-lo. 

Foi com esse objetivo que ele realizou todo o ritual do fim de semana, começando a partir do momento em que a camisa desceu-lhe os braços e cobriu-lhe o peito desnudo até o primeiro passo no imundo chão do estádio.


Pipa se confunde com as cores do próprio estádio

Poucos metros após as catracas que Nicolás havia ultrapassado, começavam a impregnar-se junto aos seus tênis castigados pelo tempo pedaços de papel higiênico, odores de líquidos diversos, cascas de amendoim e bitucas de cigarro. 

Ah, e o cheiro inconfundível de urina exalava fortemente dos banheiros, mas ninguém parecia incomodar-se com isso. Afinal, nada poderia atrapalhar este casamento sagrado entre o homem e seu time no mais sagrado dos templos. Ao entrar pelos portões enegrecidos pelas intempéries, Pipa rumou à sua esquerda, onde se encontravam em cantoria seus irmãos de futebol.

Com a bola rolando, o time da casa não demonstrava o esforço de outrora, para a loucura do nosso protagonista. Até compreensível o fraco ritmo da equipe, digamos. De que adiantava o sacrifício ao final da temporada se nada havia em disputa?

Porém, do outro lado da história, bem atrás de uma das metas, Pipa vivia intensamente a partida em cada segundo, em cada roubada de bola e deixou mais do que sua voz nas tribunas: deixou alma e coração.

Interagindo com sua casa, aquele local onde não existe nada mais além do fervor da paixão, ele torceu como nunca dantes visto. Talvez porque pressentisse o que estaria por vir: a apunhalada mortal pelas costas.

De repente, após anos de devoção incondicional, Pipa foi traído de modo súbito por quem ele menos esperava. Movido por interesses que já não cabiam às suas modestas raízes, o clube desapropriou-se do quase centenário estádio para construir uma arena (!) - destas em moldes europeus, faraônicas e genéricas. E este novo projeto não admitia a existência de torcedores como ele, humildes e fieis.

Abatido, sem reação, Nicolás ainda lutaria contra o sistema com todas as suas armas, porém seus esforços de nada adiantarão. O projeto irá concretizar-se e levará abaixo o antigo estádio no qual ele viveu, para o qual ele viveu e o qual ele viveu. Melancólico fim para tantos Pipitas que encontram apenas uma paixão durante a vida.

Nicolás nunca mais viu seu time em campo depois da concretização deste episódio. Agora comportando apenas clientes sentados e orquestrados por uma organização descabida - meros espectadores - o novo estádio vive sem vida, sem palpitação, sem história. 

No entanto, isso não é o mais agravante. Com o resultado deste crime ao patrimônio local, a arena agora vive também sem identidade. Vive sem paixão. Vive sem Pipita, que não vive mais.

Futebol moderno matou nossos Pipitas

segunda-feira, 22 de julho de 2013

De volta à normalidade


Com o título conquistado por Serena Williams em Bastad, na Suécia, no último domingo, tudo voltou ao normal no mundo do tênis feminino. A número um do mundo recuperou-se da queda precoce e surpreendente em Wimbledon e levantou o 53º troféu de sua carreira.

Sim, a norte-americana era a única grande tenista na competição, mas porque o evento europeu é disputado no saibro. Mas vale ressaltar que todas suas principais adversárias (ainda que sejam freguesas) estão focadas nas quadras de piso duro para a disputa do US Open.

Williams, por outro lado, segue firme na terra batida, superfície sobre a qual conquistou o quinto título consecutivo na temporada. Antes, ela havia faturado o caneco em Charleston, Madri, Roma e Roland Garros, que no total lhe garantiram premiação de US$ 3,700 milhões e 4.650 pontos.

Como se não bastasse tantos troféus, Serena lidera com folga o ranking da WTA, com 11.705 pontos, enquanto a russa Maria Sharapova ocupa a segunda posição, com 9.253. Por fim, a americana de 31 anos também lidera tranquilamente a corrida para Istambul, com 7.520 pontos no ano.

Serena comemora título em Bastad, Suécia
Ao que parece, ninguém pode bater Serena a não ser o próprio corpo, responsável pela eliminação da primogênita das irmãs Williams em três torneios seguidos: Nas quartas de final do Aberto da Austrália, quando sentiu as costas e caiu diante da compatriota Sloane Stephens, na final do WTA de Doha para Azarenka, quando ainda não estava 100%; e em Dubai, quando abandonou o torneio na segunda rodada, durante duelo contra a francesa Marion Bartoli.

Mas qual o segredo de Serena? A própria tenista o revela: a irmã Venus.

Ex-número um do mundo, Venus descobriu em 2011 que sofre da Síndrome de Sjogren, doença autoimune que ataca as glândulas produtoras de lágrimas e suor. Esse fator somado aos 32 anos causam desgastes irreparáveis no corpo da tenista, que mesmo assim permanece na 36ª posição do mundo.

"Sou a sua maior fã, ainda mais quando ela descobriu a doença. Não invento desculpas. Acho que ultimamente jogo melhor por conta disso. Quando penso na minha irmã e no fato de ela não poder ser capaz de jogar seu melhor em alguns dias, penso que não tenho desculpas. Então isso me motiva a não perder, porque não tenho desculpas", declarou a caçula da família.

A cada semana que passa Serena crava mais fundo ainda seu nome na história do tênis com sucessivas conquistas. Tem como não admirá-la? Que venha o US Open!