quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O milagre de Francisco e o caminho para a Libertadores

Nunca diga que um Papa não pode fazer milagres, muito menos perto de um hincha do San Lorenzo de Almagro. É bem verdade que as relações entre futebol e religião são apenas simbólicas (será?), mas não podemos negar que as forças divinas estão fortemente atreladas ao esporte e sempre o acompanhou.

San Lorenzo homenageou o Papa no uniforme principal
O fato é que desde a eleição do pontífice Francisco I, torcedor ilustre e de carteirinha do clube de Boedo (sócio número 88.235), o San Lorenzo atravessa uma ótima fase nos campeonatos nacionais. Terceira colocada no Torneo Inicial, a equipe classificou-se na última quarta-feira para a final da Copa Argentina.

A batalha não foi fácil, mas a equipe comandada por Juan Antonio Pizzi venceu o Estudiantes de Caseros nos pênaltis (5 a 4), fora de casa, após o empate em 1 a 1 no tempo regulamentar. Agora, o Ciclón espera a definição do confronto entre Arsenal de Sarandi e All Boys para conhecer seu adversário na decisão. A semifinal será disputada no dia 2 de outubro.

De quebra, os cuervos estão próximos de conquistar o primeiro título desde 2007 e retornar à Copa Libertadores após quatro anos de ausência. A última participação azulgrená no torneio havia sido em 2009, quando aquele equilibrado plantel decepcionou e ficou na lanterna da fase de grupos, com seis pontos conquistados.

Ninguém no bairro de Boedo nega: o objetivo do clube para o próximo ano é a América. E caso a meta seja alcançada, haverá mais um motivo para a diretoria do San Lorenzo construir uma estátua do Papa Chico no estádio Pedro Bidegain, já que o time também livrou-se do rebaixamento na última temporada - coincidentemente (ou não) depois de o pontífice assumir o cargo mais importante do catolicismo.

FICHA TÉCNICA - Semifinal:

San Lorenzo: Torrico; Buffarini, Alvarado, Gentiletti, Mas; Kalinski, Navarro; Piatti, Ruiz, Elizarri; Villalba. Técnico: Juan A. Pizzi.

Estudiantes: Ríos, Alvarez, Gásperi, Tavio, Montero; Serrano, Loria, Galván; Britos, Yassogna, Delorte. Técnico: Oscar Blanco.

Estádio: Centenário de Chaco (Resistência, Argentina).
Árbitro: Sergio Pezzotta.
Gols: 13' Buffarini (San Lorenzo), 55' ST Delorte (Estudiantes).

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Crônica: Torcedor de carne e sangue

A tarde ensolarada daquele domingo prenunciava mais um dia na rotina futebolística de Nicolás González, carinhosamente conhecido em suas bandas como El Pipa, ou só Pipita, para os mais íntimos.

O jogo, a rigor, não valia nada. Era apenas um destes confrontos para se cumprir tabela. No entanto, há sempre algo de especial em ver seu time dentro de campo, sobretudo porque "a mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana", como definiu Nelson Rodrigues.

Vestindo sua insubstituível e surrada camisa alvirrubra, Pipa seguia religiosamente a liturgia há décadas praticada pelos integrantes de sua família antes de sentir a vibração de uma partida. 

Aliás, são tantos anos de vivência naquelas arquibancadas de concreto que já não se sabia quem sentia quem. Talvez até a própria cancha soubesse da presença de seu fanático torcedor tamanha a ligação entre os dois.

E não era para menos. O sangue de Pipita escorria literalmente por aquelas grades e regava o gramado cheio de irregularidades. Por morar num bairro marcado pela forte imigração, ele participou de modo direto da reconstrução do estádio, que havia sido erguido por seus próprios antepassados operários.

Tais empenhos resultaram em suor e sangue, sendo que este muitas vezes rompia-lhe a pele em razão de precária segurança com a qual trabalhava. Mas outro elemento importante também sustentava a edificação: as lágrimas que caíram nas derrotas e se misturaram à composição do material.

Pipa canta nos muros e nos alambrados, interagindo com o estádio como se ele fosse sua extensão

Dados os ingredientes que formam nosso palco, resta-nos saber que três horas antecedendo o apito inicial bastavam para Nicolás encontrar os amigos, apreciar sua cerveja e resenhar sobre aventuras passadas. 

"Lembra aquela semifinal quando viajamos o país inteiro para ver o técnico retrancar o time? E ainda saiu briga...", relembra um torcedor de invejável memória. Na verdade, a única lembrança inexata deste "hincha" remetia à quantidade de vezes que ele lutou para impedir que desprestigiassem as cores pelas quais vive.

Mas é claro que El Pipa se recordava daquele embate. Cada partida é para ele como um filho. Desde o apito inicial que simboliza o parto até a morte decretada pelo último sopro do juiz - esta persona non grata sem identidade que assombra todos os continentes. Claro, também havia memórias dos confrontos diante seus exatamente iguais e opostos, os rivais alvinegros que viviam do outro lado da cidade.

O jogo, entretanto, não era contra eles. Então, o fundamental é saber que mais um filho de Pipa estava prestes a nascer. Preparado com bandeira, faixas e sinalizadores, Nicolás mal podia esperar para conhecê-lo. 

Foi com esse objetivo que ele realizou todo o ritual do fim de semana, começando a partir do momento em que a camisa desceu-lhe os braços e cobriu-lhe o peito desnudo até o primeiro passo no imundo chão do estádio.


Pipa se confunde com as cores do próprio estádio

Poucos metros após as catracas que Nicolás havia ultrapassado, começavam a impregnar-se junto aos seus tênis castigados pelo tempo pedaços de papel higiênico, odores de líquidos diversos, cascas de amendoim e bitucas de cigarro. 

Ah, e o cheiro inconfundível de urina exalava fortemente dos banheiros, mas ninguém parecia incomodar-se com isso. Afinal, nada poderia atrapalhar este casamento sagrado entre o homem e seu time no mais sagrado dos templos. Ao entrar pelos portões enegrecidos pelas intempéries, Pipa rumou à sua esquerda, onde se encontravam em cantoria seus irmãos de futebol.

Com a bola rolando, o time da casa não demonstrava o esforço de outrora, para a loucura do nosso protagonista. Até compreensível o fraco ritmo da equipe, digamos. De que adiantava o sacrifício ao final da temporada se nada havia em disputa?

Porém, do outro lado da história, bem atrás de uma das metas, Pipa vivia intensamente a partida em cada segundo, em cada roubada de bola e deixou mais do que sua voz nas tribunas: deixou alma e coração.

Interagindo com sua casa, aquele local onde não existe nada mais além do fervor da paixão, ele torceu como nunca dantes visto. Talvez porque pressentisse o que estaria por vir: a apunhalada mortal pelas costas.

De repente, após anos de devoção incondicional, Pipa foi traído de modo súbito por quem ele menos esperava. Movido por interesses que já não cabiam às suas modestas raízes, o clube desapropriou-se do quase centenário estádio para construir uma arena (!) - destas em moldes europeus, faraônicas e genéricas. E este novo projeto não admitia a existência de torcedores como ele, humildes e fieis.

Abatido, sem reação, Nicolás ainda lutaria contra o sistema com todas as suas armas, porém seus esforços de nada adiantarão. O projeto irá concretizar-se e levará abaixo o antigo estádio no qual ele viveu, para o qual ele viveu e o qual ele viveu. Melancólico fim para tantos Pipitas que encontram apenas uma paixão durante a vida.

Nicolás nunca mais viu seu time em campo depois da concretização deste episódio. Agora comportando apenas clientes sentados e orquestrados por uma organização descabida - meros espectadores - o novo estádio vive sem vida, sem palpitação, sem história. 

No entanto, isso não é o mais agravante. Com o resultado deste crime ao patrimônio local, a arena agora vive também sem identidade. Vive sem paixão. Vive sem Pipita, que não vive mais.

Futebol moderno matou nossos Pipitas

segunda-feira, 22 de julho de 2013

De volta à normalidade


Com o título conquistado por Serena Williams em Bastad, na Suécia, no último domingo, tudo voltou ao normal no mundo do tênis feminino. A número um do mundo recuperou-se da queda precoce e surpreendente em Wimbledon e levantou o 53º troféu de sua carreira.

Sim, a norte-americana era a única grande tenista na competição, mas porque o evento europeu é disputado no saibro. Mas vale ressaltar que todas suas principais adversárias (ainda que sejam freguesas) estão focadas nas quadras de piso duro para a disputa do US Open.

Williams, por outro lado, segue firme na terra batida, superfície sobre a qual conquistou o quinto título consecutivo na temporada. Antes, ela havia faturado o caneco em Charleston, Madri, Roma e Roland Garros, que no total lhe garantiram premiação de US$ 3,700 milhões e 4.650 pontos.

Como se não bastasse tantos troféus, Serena lidera com folga o ranking da WTA, com 11.705 pontos, enquanto a russa Maria Sharapova ocupa a segunda posição, com 9.253. Por fim, a americana de 31 anos também lidera tranquilamente a corrida para Istambul, com 7.520 pontos no ano.

Serena comemora título em Bastad, Suécia
Ao que parece, ninguém pode bater Serena a não ser o próprio corpo, responsável pela eliminação da primogênita das irmãs Williams em três torneios seguidos: Nas quartas de final do Aberto da Austrália, quando sentiu as costas e caiu diante da compatriota Sloane Stephens, na final do WTA de Doha para Azarenka, quando ainda não estava 100%; e em Dubai, quando abandonou o torneio na segunda rodada, durante duelo contra a francesa Marion Bartoli.

Mas qual o segredo de Serena? A própria tenista o revela: a irmã Venus.

Ex-número um do mundo, Venus descobriu em 2011 que sofre da Síndrome de Sjogren, doença autoimune que ataca as glândulas produtoras de lágrimas e suor. Esse fator somado aos 32 anos causam desgastes irreparáveis no corpo da tenista, que mesmo assim permanece na 36ª posição do mundo.

"Sou a sua maior fã, ainda mais quando ela descobriu a doença. Não invento desculpas. Acho que ultimamente jogo melhor por conta disso. Quando penso na minha irmã e no fato de ela não poder ser capaz de jogar seu melhor em alguns dias, penso que não tenho desculpas. Então isso me motiva a não perder, porque não tenho desculpas", declarou a caçula da família.

A cada semana que passa Serena crava mais fundo ainda seu nome na história do tênis com sucessivas conquistas. Tem como não admirá-la? Que venha o US Open!

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Quem pode impedir o tetra brasileiro na Libertadores?


Quem poderá evitar o quarto título brasileiro consecutivo na Libertadores? O Boca Juniors em crise? A surpresa de Tijuana? O perigoso Nacional? É, caro leitor, as equipes do continente terão que se desdobrar de mil maneiras para recuperar a taça mais cobiçada da América.

Apesar de o Brasil ter seis representantes na segunda fase da Libertadores de 2013, inevitavelmente um deles não passará das oitavas de final, já que temos confronto caseiro entre São Paulo e Atlético-MG. Mesmo assim, o favoritismo para a conquista do torneio não deixa de ser nosso.

Isso porque nossos vizinhos amargam violenta crise financeira, o que reflete em seus respectivos clubes de futebol: eles não contratam jogadores de peso e não conseguem segurar os que se destacam. Além de tudo, vivem tempos de vacas magras no que se refere à revelação de talentos.

Prova disso? A Universidad de Chile não resistiu ao mercado e desmontou o time da vitoriosa temporada de 2011. Quem também viu peças importantes irem embora foi o Vélez Sarsfield, que ainda assim conseguiu fazer lá seus remendos e voltou a ser competitivo.

Nas seleções dos países sul-americanos, não vemos atletas da casa atuarem como destaques. Por exemplo, o peruano Paolo Guerrero joga no Brasil, o argentino Lionel Messi atua na Espanha, enquanto o uruguaio Luis Suárez (URU) mostra seu talento no Reino Unido.

Além do Galo e do Tricolor do Morumbi, Corinthians e Palmeiras estão no mesmo lado da chave e podem protagonizar mais um clássico brasileiro. Na outra ponta, representam nosso esporte bretão Grêmio e Fluminense, que teoricamente têm o caminho mais fácil até a final: Emelec (EQU), Tigre (ARG), Santa Fe (COL), Nacional (URU) e Real Garcilaso (PER).

Mas poupemos tempo e vamos ao que interessa: qual time é a maior ameaça ao tetracampeonato brasileiro? Acredito em Newell's Old Boys ou o Vélez Sarsfield.


NEWELL'S OLD BOYS

A equipe de Gerardo Martino consegue ser consistente como um time italiano. De certo modo, lembra o Atlético-MG, porque liderou o campeonato nacional por um bom tempo, mas acabou deixando o título escapar no fim (Apertura 2012, terceira colocação). Apesar da queda de rendimento, a equipe reencontrou o caminho das vitórias e está na primeira posição do Clausura 2013, com 25 pontos em 11 jogos, três a mais que o vice-líder Lanús. Por outro lado, o desempenho na Copa não é tão bom assim, tendo se classificado no segundo lugar e perdendo a primeira partida das oitavas para o compatriota Vélez.

Esquema tático: 3-4-2-1

Com o ala Cáceres apoiando o ataque, o setor defensivo fica com três zagueiros: Heinze, Vergini e Casco. Volantão, o polivalente Hernán Villalba desarma bem e tem qualidade na saída de jogo. Na criação, Pablo Pérez e Bernardi recebem ajuda do rodado Scocco, atleta que chuta forte, dribla, tem resistência e serve os companheiros de ataque, Maxi Rodríguez e Martin Tonso.

Jogando em casa, no estádio El Coloso del Parque, a equipe venceu todas as partidas, menos o duelo contra a Univerdidad de Chiel (2 a 1), revés devolvido como visitante (2 a 0). Nas oitavas, martelou o Vélez insistentemente, porém a trave impediu a vitória leprosa. No geral, o Newell's se porta  muito bem apesar da limitação do time.


VÉLEZ SARSFIELD

Talvez principal esperança dos hermanos na Libertadores, o Vélez terminou a primeira fase do torneio com a melhor campanha do grupo 4 (13 pontos, mesma pontuação do Corinthians) e eliminou o pentacampeão Peñarol do mata-mata. Contudo, sofre do mesmo problema dos brasileiros: um compatriota forte logo nas oitavas de final.

Esquema tático: 4-4-2

Bem postado defensivamente, os comandados de Ricardo Gareca são adeptos do ora aclamado, ora detestado 4-4-2. Entrosado, o time sabe armar bem duas linhas de quatro jogadores na defesa e vê o volante Cerro atuar frequentemente como terceiro zagueiro.

No meio, Gago, Bella e Insúa são responsáveis pela rápida transição ao ataque, com belas triangulações e qualidade de domínio dos atacantes Rescaldini e Pratto (o terceiro melhor ataque da fase de grupos).

Como se o duelo contra o Newell's não fosse o suficiente, o "novo grande" argentino pega - se passar - Boca ou Corinthians nas quartas de final para por à prova o elenco e o trabalho da temporada. Dificilmente outra equipe de fora leva a Libertadores.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

On the way to Wembley

Análise das semifinais da Liga dos Campeões da Europa*
Façam suas apostas: Quem avança para a decisão em Wembley?

*Em parceria com Arthur Lima


Bayern de Munique - Pelo legado de uma geração

Um dos clubes mais ricos e vitoriosos do mundo, o maior campeão da Alemanha chega para as semifinais da Liga dos Campeões com grandes possibilidades de fazer bonito. A equipe treinada por Jupp Heynckes garantiu o título do campeonato local com sete rodadas de antecedência, e durante a campanha demonstrou uma qualidade que pode fazer a diferença também no torneio europeu: o elenco tem várias peças de reposição em todos os setores, fazendo com que algum possível desfalque na equipe titular não seja tão sentido. Tanto que o artilheiro da equipe no ano passado, Mario Gomez, perdeu o status de titular absoluto no começo da temporada graças à grande fase do croata Mario Mandzukic, contratado junto ao Wolfsburg na janela de inverno. O time consegue reunir qualidade na posse de bola com a já conhecida agressividade do futebol alemão, e a velocidade de jogadores como Ribéry, Robben e Shaqiri pode fazer a diferença contra defesas que jogam em linha.

O forte elenco do Bayern é a fonte de esperanças dos torcedores bávaros

Mas o clube da Baviera ainda deixa o público com a pulga atrás da orelha por conta do desempenho nos grandes jogos dos últimos anos. Jogadores como Neuer, Lahm, Schweinsteiger, Muller e Gomez fazem parte de uma geração com talento reconhecido pela crítica internacional graças ao desempenho pelo Bayern e pela seleção alemã, mas ainda falta uma grande conquista internacional para consagrá-los de vez. Chegaram perto na Euro e na Copa, e pode-se dizer que estiveram a apenas um pênalti do título da Champions League no ano passado, em casa, contra o Chelsea. Em todas essas ocasiões, acabou faltando poder de decisão. Se o Bayern tiver aprendido com os fracassos recentes, é fortíssimo candidato para ganhar tudo que disputar, e não só nesta temporada.


Barcelona - Na condição de humanos

Depois de 2008, o Barcelona ressurgiu ao mundo como o adversário a ser batido. Prova disso? Três Espanhois, duas Ligas dos Campeões e dois Mundiais da FIFA entre 2009 e 2011 convencem praticamente qualquer pessoa. Além disso, o elenco catalão conta com o genialmente simples (ou simplesmente genial) Lionel Messi. No entanto, a derrota para a zebra azul nas semifinais da Liga na temporada passada tirou a aura blaugrana de "time invencível". Tanto que derrotas para o arquirrival Real Madrid e para o Milan puseram em questão a tão incontestável superioridade do Barça frente a todas as outras equipes do mundo.

Messi, a taça e a bandeira catalã: Voltaremos a vê-los juntos?

Apesar do breve inferno astral, o Barcelona voltou a ser eficiente e eficaz (ainda mais que na época de Guardiola). Lidera com sobras o campeonato nacional, continua com a já consagrada e característica obsessão pela posse de bola e tem na perna esquerda de Messi uma fonte inesgotável de gols. Por tudo isso, deixou as críticas de lado e voltou a ser um dos favoritos ao título do torneio mais cobiçado da Europa. Porém, os recentes acontecimentos fizeram com que os adversários percebessem que o Barça não é invencível.  Embora tenha um grande elenco, os comandados de Vilanova são humanos. E é nessa condição que eles entram na Allianz Arena, no duelo contra o Bayern de Munique, na próxima terça-feira. Não mais como os semi-deuses de outrora.

É a sexta semifinal consecutiva do Barça na Liga e Messi está voando, porém uma lesão sofrida pelo argentino durante o embate contra o PSG expôs certa dependência do time em relação ao melhor jogador do mundo. Se ele estiver 100%, o Barça tem ligeiro favoritismo para ir à final por conta da tradição e do histórico de "pipocadas" do adversário. Contudo, isso é conversa de roda de bar. Quando o apito inicial for dado, o resultado passa a ser imprevisível.


Borussia Dortmund - Em busca do pote de ouro


Tido como um dos times que apresenta futebol mais bonito há pelo menos dois anos, o Borussia retorna às semifinais da Liga dos Campeões depois de dezesseis anos, e com moral: é o único time que permanece invicto na competição, mesmo sendo sorteado para jogar no “grupo da morte” na primeira fase. As boas atuações contra Ajax, Real Madrid e Manchester City serviram para elevar a autoestima da equipe, assim como a épica classificação nos acréscimos contra o Málaga, nas quartas de final. Os aurinegros possuem um time jovem e que toca a bola com velocidade, principalmente com a promissora dupla de alemães formada entre Mario Gotze e Marco Reus (que, apesar de fazer sua primeira temporada pelo Dortmund, joga como se já estivesse lá há pelo menos cinco anos). 

Como se não bastasse isso, o time conta ainda com o instinto artilheiro de Lewandowski, jogador que não se destaca tanto pela técnica, mas não decepciona nem um pouco quando recebe a bola de frente para o gol. Além de tudo, o Borussia conta com um reforço extra que vem das arquibancadas: a torcida que sempre lota o Westfalenstadion  e apoia o time durante todo o jogo a é a mais participativa dentre as que restaram nesta edição da Liga, e pode fazer a diferença em duelos apertados.

A apaixonada  torcida aurinegra dá ainda mais força ao time. 

Só que a mesma juventude que dá um toque de improviso e criatividade ao time pode ser um fator que acabe o prejudicando em partidas contra equipes mais experientes neste tipo de torneio, como é o caso do Real Madrid. Além disso, o zagueiro Hummels, considerado um dos melhores do mundo na posição, retornou de uma grave lesão há pouco tempo e ainda não se sabe se sua condição física é a ideal. Se for, os atacantes adversários podem começar a quebrar a cabeça pensando em formas de passar pela barreira amarela. Mas com certeza seria muito arriscado colocar um Hummels sem estar em condições ideais para enfrentar um time que conta com Cristiano Ronaldo.

Real Madrid - A redenção merenge

Desde aquele já longínquo 2001/02 a principal equipe da capital espanhola não levanta um caneco da Liga. Para os mais otimistas, 2013 parece trazer bons ares. Apesar da campanha abaixo do esperado na fase de grupos, quando ficou com o segundo lugar, o Real já eliminou o Manchester United e o renovado Galatasaray. Além de tudo, pode pegar um time alemão na final, assim como em 2002. Seria esse um sinal? Na primeira fase do torneio, tivemos uma pequena amostra do que está por vir: dois jogos equilibrados contra o Dortmund. Só que agora as circunstâncias são outras. Os merengues entram em campo com todos os nove títulos da Champions debaixo do braço e o peso enorme da camisa branca. 


Borussia foi algoz na primeira fase. Cristiano Ronaldo sai cabisbaixo.
Mas só isso não irá fazer a diferença. Quem pode desequilibrar é Cristiano Ronaldo, artilheiro do campeonato com 11 gols. O português vive ótima fase e tenta conduzir o Real de volta aos trilhos da glória europeia. Apesar de ser uma equipe fortíssima que conta com Özil, Benzema, Higuaín e Xabi Alonso (além de outras peças importantes, é claro), o time bate na trave na hora de ganhar um título de expressão a nível continental. Com o português José Mourinho, especialista em Champions, à beira do gramado, o jejum pode acabar. As linhas ofensivas madridistas avançam muito bem e atropelam com facilidade a primeira linha de quatro dos adversários. Fora isso, o time tem bons cobradores de falta, é forte na velocidade e em bolas aéreas. Os merengues vêm em busca da redenção e da resposta aos milhões de euros investidos no clube. É a chance de Cristiano repetir os tempos de Manchester e trazer junto com a "orelhuda" o troféu de melhor do mundo para sua casa na Espanha.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Juventus, Juventus, eu estou aqui!


E estávamos mesmo. Os 146 km que separavam a sede da nossa torcida do Estádio Carlos Colnaghi, em Capivari, São Paulo, não impediram o nosso alento. E após duas horas e dezenove minutos dentro do carro, de paisagens rurais e de um certo medo da cidade até aquela altura deserta, o bloqueio policial anunciava nossa chegada ao destino final. A bateria da Torcida Organizada Leões da Raia, as nuvens negras, nada abalou nossa fibra (a não ser os raios e trovões cinematográficos que nos circundavam). 

Comprados os ingressos para mais uma rodada da série A2 do Campeonato Paulista, por volta das 15h15min, adentramos no modesto "Capivarião" pela portão dos mandantes. O segurança que cuidava da revista viu nossas camisas grenás e impediu que continuássemos. A escolta chegou para nos levar seguramente à área dos visitantes. Os policiais mais educados que já vi em quase 10 anos de estádios. 


    O simpático Carlos Colnaghi. Demorou, mas o encontramos


Começa a partida e a equipe da casa abre o placar em menos de 2 minutos. Promessa de jogo quente. A resposta para o calor do confronto veio rápido: a chuva, e que chuva! Tempestade! Katrina! Dilúvio! Fim do mundo! Chame como quiser, leitor. Eu nunca tinha enfrentado uma dessas antes. Totalmente desmunidos de guarda-chuvas e capas, ficamos durante quase todo o primeiro tempo apanhando das gotas d'água que pareciam bolinhas de paintball. Apanhávamos em campo do Capivariano, também. 2 x 0 para o time da casa.


A chuva não foi nada. O duro foi ficar molhado até de noite

Os 11 juventinos (10, se não levarmos em conta a mulher que aparentava estar meio perdida na torcida) esperaram até o o último minuto para ver o gol da squadra paulistana, mas o tento não foi o suficiente para voltarmos com pelo menos um ponto na bagagem. Paciência. Bola pra frente.



Ao final do jogo, alguns torcedores "rivais" se aproximaram da grade e nos aplaudiram. Um até nos saudou (coisa que nosso próprio time não fez). Não acho que tenha sido pela nossa coragem de sair de São Paulo para ver um time que demonstra com certa frequência um futebol fraco, mas sim porque fomos os únicos no estádio (além dos profissionais em campo, claro) que ficaram bravamente embaixo da chuva, e que chuva!

Mas depois da tempestade sempre vem a bonança. Se não vimos beleza dentro das quatro linhas, pudemos apreciá-la na estrada, no caminho de volta pela Rodovia do Açúcar, quando fomos presenteados pelos nossos esforços com um maravilhoso pôr do sol. Era Capivari nos sinalizando boa viagem e provavelmente um 'até logo' inesquecível. 

Foto do parceiro Ricardo, celebridade das rádios paulistas

Agradeço a meus companheiros de Juve pela oportunidade de viajar e pela ótima companhia. Seguiremos incentivando até o fim. Forza, Juve!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Novak, o mito

Não bastou tornar-se o maior expoente do esporte sérvio em atividade. Não bastou quebrar o mais longo duopólio da história do tênis (Federer-Nadal, que somam juntos 28 títulos de Grand Slam). Nole ainda superou Roger Federer e assumiu a mais alta posição do ranking da ATP, com 12.920 pontos conquistados em 18 torneios, contra 10.265 do suíço. Além de tudo, Djokovic termina o ano como número 1 do mundo ao final pela segunda vez consecutiva.

Comemoração incomum do sérvio ao conquistar o US Open

2012

Campeão do último Australian Open numa final de 5h53min contra Rafael Nadal, do ATP Finals, vice-campeão do US Open e de Roland Garros, Novak não surpreende só por suas habilidades com a raquete. Isso mesmo. A rotina de títulos não ofusca o grande ser humano que ele é. Ainda por cima, o sérvio também ganhou fama de brincalhão ao imitar diversas personalidades do tênis, como Maria Sharapova e Andy Roddick (assista aqui).

Ao final da temporada, Nole fez uma partida de exibição contra Gustavo Kuerten, o Guga, no Maracanãzinho. Entrou com uma peruca similar à cabeleira do brasileiro, deixou que uma criança jogasse em seu lugar e, depois, vestiu uma camiseta com a imagem de Kuerten estampada, reverenciando o tricampeão de Roland Garros. Tudo isso fora as brincadeiras com o público e a tentativa frustrada de sambar com algumas passistas. 


Os "Gugas" em ação;  Djokovic ultrapassou o ídolo de infância em mais semanas como 1º colocado no ranking

Engana-se, porém, quem acha que Djokovic já nasceu como número 1 do mundo. O sérvio viveu sua infância sob bombardeio da OTAN (Operação Forças Aliadas, intervenção militar durante um conflito separatista no país) e constantemente abandonava as quadras que o acompanhavam desde os 4 anos de idade para se abrigar em locais seguros. Já na adolescência, foi treinar em Munique, Alemanha, para desenvolver suas habilidades. Seus pais tomaram empréstimos para poder dar ao filho o futuro com o qual ele sonhava. Por ter passado por tantas dificuldades, criou a Fundação Novak Djokovic, entidade filantrópica que realiza contribuições para melhorar a vida de crianças sérvias, o que o levou a ganhar o  Prêmio Arthur Ashe e a tornar-se embaixador da UNICEF.



Primeira entrevista de Djokovic, com 7 anos


Um mito não só dentro, mas também fora das quadras. Esse é Novak "Nole" Djokovic.